Vou percorrer este caminho de modo reverso: DAQUI PRA LÁ!
Minha atuação profissional está pautada atualmente em uma visão integrativa do ser humano: um ser bio-psico-socio-político-espiritual. Olhar este muito propício ao contexto em que vivemos desde março/2020 – a pandemia – no qual colocou em evidência a atenção aos cuidados e proteção do corpo, a importância do aprendizado e gerenciamento de nossas emoções, o impacto do isolamento social e a busca pela espiritualidade em sentido mais amplo.
Psicóloga Clínica, desde 1985, “de carteirinha” – Especialista pelo CRP 5ª região – sempre atenta às novas descobertas nesta área, acompanhando a evolução da neurociência no que tange às descobertas do cérebro, despertou-me interesse em como podemos utilizar tais conhecimentos na prática clínica. Esta curiosidade me levou ao encontro da abordagem EMDR – Eyes MovimentDesensitization e Reprocessing (Dessensibilização e Reprocessamento através dos movimentos oculares) e o Brainspotting. Propostas psicoterapêuticas para trabalho com traumas emocionais – base de muitas das psicopatologias.
No desenvolvimento deste trabalho clínico, integrei minha formação anterior: FORMAÇÃO EM TERAPIA DE CASAL E FAMILIA, realizada pelo “instituto” formador, Delphos Espaço Psicossocial, do qual sou uma das diretoras desde 1993. Não há como pensar a “dor emocional” sem um olhar para este 2º “útero” que é a família. Içami Tiba, meu mestre e escritor, muito querido, faz uma analogia muito interessante quando fala que ‘no útero materno iniciamos nosso percurso através dos CROMOSSOMOS e no UTERO FAMILIAR aprendemos o COMO SOMOS’.
Assim, a visão sistêmica familiar sobre a vida, a dinâmica das relações conjugais e familiares, as conexões e interconexões (e a falta delas) entre membros da família corroboram com a relação dos traumas de apego, traumas do desenvolvimento e suas consequências na vida do indivíduo. Observei que, em muitos casos de atendimento familiar, onde era perceptível uma evolução relacional entre os indivíduos, alguns sintomas mantinham-se resistentes e necessitavam de uma intervenção profunda, a qual a terapia EMDR me proporcionou e que posso ofertar aos que me procuram.
O que antecedeu à minha entrada na TERAPIA FAMILIAR, e confesso que foi um privilégio daquela estudante de psicologia, foi conhecer o “PSICODRAMA”, abordagem criada e desenvolvida pelo Psiquiatra Jacob Levy Moreno, a qual me acompanha até hoje. Em um contexto pedagógico da época em que se polarizava de um lado a psicanálise e de outro a terapia comportamental – o resto era “alternativo”, optei por fazer parte “desta categoria”. A possibilidade de integrar a arte à psicologia foi encantador e apaixonante. Revolucionário, utópico, mas acima de tudo um visionário – propunha tratar a sociedade, pois para ele, este contexto social é que adoece o individuo cerceando sua natureza espontânea. Filosofia, teoria e prática convergiam de um modo profundo para o tratamento de pessoas e de grupos (no qual a “família” já estava aqui sendo semeada).
Neste percurso, precisamente em 2008, o País se depara com a 1ª grande tragédia natural ocorrida no sul e o sistema Conselhos (CRPs, CFP) com o total despreparo de nossa categoria para intervenção em incidentes críticos. Então surge o PROGRAMA DE AJUDA HUMANITÁRIA PSICOLÓGICA (PAHP) e com ele a oportunidade para “abrir minha mochila” e tirar as ferramentas que ali estavam. A possibilidade de tratar muitas pessoas de uma vez só seria possível com as intervenções grupais do Sociodrama e dos protocolos grupais integrativos do EMDR. Neste contexto, encontrei algumas “pahpianas”, nome carinhoso com o qual nos denominamos, e fundamos em 2013 o Espaço Psi de Desenvolvimentoem minha cidade natal, Niterói/RJ.
As tragédias que impactam e destroem famílias e comunidades deixam suas marcas profundas nos indivíduos, fato que me levou a estudos profundos sobre os traumas emocionais.
Retornando aos dias de hoje, convivemos com a pandemia e com este contexto traumatogênico que tem nos levados também viver uma pandemia do trauma.
Para finalizar, resgatando a visão do humano, como também um ser politico que afeta e é afetado por este contexto social, sempre desempenhei funções político-institucionais como uma possibilidade de contribuir para desenvolvimento administrativo-técnico-cientifico ocupando vários cargos nas associações profissionais: Sociedade de Psicodrama de Niterói, Sociedade de Psicodrama do Rio de Janeiro, Federação Brasileira de Psicodrama onde tive oportunidade de presidir o XV Congresso Brasileiro de Psicodrama; Associação Brasileira de EMDR (Cons. Fiscal). E aqui, especialmente nesta família ATF-RJ, tive a honra de estar presidente na gestão 2012-2014, participando do CDC/ABRATEF, e onde, atualmente, integro a Diretoria de Relações Interinstitucionais.
Enfim, de lá pra cá vou percorrendo o caminho do aprender, do compartilhar, do conviver, co-construir, do amor à profissão e respeito à dor daqueles que “nos precisam”. Gratidão a todos e todas que “estavam comigo aqui” quando rascunhei estas palavras!!
Psic. Lilian Rodrigues Tostes
CRP 05/10807
Terapeuta e Supervisora em EMDR; Terapeuta em Brainspotting; Terapeuta de Casal e Família, Psicodramatista.
Especialista em Docência Superior em Psicologia Clínica
@delphospsic @espacopsidesenvolvimento