É hora da escola. Os portões se abrem. Famílias ficam do lado de fora, enquanto seus filhos se tornam alunos, nesse espaço que é tão diverso e coletivo.
Chão da escola. Lugar de muitos passos, de diferentes ritmos. Enquanto uns correm, outros caminham com suavidade. Em todos os espaços podem ser ouvidos risos, conversas ou silêncios. Uns se enturmam facilmente, outros se isolam. Existem alguns, que mesmo juntos, permanecem se sentindo sozinhos. São dezenas de estudantes com roupas iguais e histórias diferentes. Espaço de encontros, desencontros, encantos e desencantos. Escola viva onde a diversidade pulsa. Que bom!
Mas afinal, que lugar é esse? Será que a escola reconhece esses passos? Será que ela é capaz de ouvir as diferentes vozes, de acolher os choros e as dores? É essencial que esse espaço plural seja capaz de estabelecer vínculos e criar parcerias. É importante, sobretudo, refletir sobre o que essa escola pretende ensinar. Outras questões fundamentais: Será que quem ensina também aprende? O que ela ensina? Como ensina? Quem ensina? Será que fica claro para aprendentes e ensinantes, que o erro e a dúvida são essenciais para o processo de aprendizagem da vida? Será que todos os saberes são levados em conta?
Sobre aquelas famílias que deixaram seus filhos e filhas na porta da escola, elas devem realmente ficar de fora?
A escola deve ser o espaço de acolhimento de todos, famílias, funcionários, alunos e alunas. Sistemas e vidas multihistoriadas se entrelaçando, para que todos tenham voz e possam se sentir seguros e respeitados.
A formação continuada, o diálogo, a troca com outras áreas do conhecimento, os grupos operativos e reflexivos, as Rodas de Conversa, contribuem muito para que os profissionais e as famílias estejam sensibilizados e habilitados para construir um espaço seguro, acolhedor, ético, atento, respeitoso, onde predomine uma escuta ativa e um olhar sensível por parte de todos os envolvidos no processo de educação, a começar pela gestão.
Desse modo, com um olhar cuidadoso e atento, o sistema familiar e o sistema escolar estarão comprometidos e engajados e juntos poderão encontrar estratégias potentes que aumentem a possibilidade de identificar e amenizar as dores inevitáveis das relações humanas. Nesse processo, tanto os que sofrem violência e bullying, quanto os que praticam, podem ser vistos e cuidados, cada qual com as suas necessidades.
Outro ponto importante é repensar a tradição da conduta acusatória, que elege um “ bode expiatório” e só culpabiliza e pune. É fundamental promover um diálogo em que seja possível a reflexão, revisão de atitudes e mudança de comportamento. A Escola, além de garantir a apropriação do conhecimento pode e deve estar a serviço da construção da cidadania e da autonomia moral. São muitos os desafios, mas muitas as possibilidades. Principalmente se tornarmos mais permeáveis os muros da escola e abrirmos os portões não só para os alunos, mas para as famílias que também trazem suas histórias de encantos e desencantos e enriquecem o processo de desenvolvimento das nossas crianças e jovens, em prol de uma sociedade mais humana, respeitosa, justa e inclusiva.
Dilza Salema
Pedagoga, Terapeuta Sistêmica de Casal e Família e Associada titular da ATF- RJ
Texto lindo, que traz excelentes reflexões sobre o papel da escola e da família. Parabéns, Dilza! Você sempre contribui muito com suas palavras, sua escuta e sensibilidade e sua postura acolhedora, dentro da escola e no consultório com as famílias . Sorte de quem tem o prazer de contar com você.