Compartilhando nossas histórias

Chegou mais um janeiro! E, como sempre, já estou eu comemorando a minha vida mesmo antes do dia que nasci. Adoro meu aniversário. Tenho vontade de sair contando para todo mundo: Ei! Sabia que eu nasci num dia como hoje? Sabia que nesse dia eu ganhei a minha vida todinha de presente?

E que presente! Uma vida todinha é muita coisa! Bem, pelo menos para mim tem sido, afinal lá se vão 66 anos.  Cheguei por aqui sem saber de nada e, apesar de já ter aprendido várias coisas, continuo com a sensação de que sei muito pouco e acho que isso é que me faz gostar tanto de viver. A vida não se esgota. A praia não acaba, as flores continuam brotando, as pessoas continuam nascendo, o sol nasce e se põe, as estrelas continuam brilhando e, mesmo os que morrem continuam vivos, seja na memória ou num bilhete ou em fotografias, nos sonhos e na saudade. Prova disso é que esse ano, ganhei dos meus pais, um pouquinho adiantado, um lindo colar de ouro e pedrinhas, que há muito eu cobiçava. Há 8 anos minha mãe morreu e meu pai há 6. Apesar deles não estarem mais aqui, deixaram para mim uma pulseira de ouro, um par de abotoaduras e uns aneizinhos que ficavam guardados como relíquias, numa caixa. Vez por outra eu mexia naquela caixa e pensava na história de cada peça. A pulseira havia sido da minha avó. Em quantos bailes, encontros, casamentos ela deve ter sido usada pela minha avó? Será que minha mãe a usou também ou encerrou-a numa caixa assim como eu e a deixou sem histórias? E as abotoaduras que meu pai herdou do meu avô? Quase consigo ver meu pai todo lindo de terno com os pulsos brilhando envergando a herança. Como eu ia dizendo, a vida não se esgota e nem algumas coisas que ficam guardadas em caixas e passadas de geração em geração. Mas será que esse é o melhor destino a ser dado para as coisas? Será que precisamos seguir contando a história do mesmo jeito? Será que podemos abrir nossas caixas e dar novos sentidos às coisas e contar novas histórias? Pois foi isso que eu fiz. Abri a caixa, peguei tudo que tinha lá dentro e levei para “cremar”. Derreti o ouro velho, transformei num novo colar e vou estreá-lo dia 17! Vou sair por aí contando e vivendo novas histórias e exibindo o presente que ganhei de meus pais. Afinal, fazer aniversário e ressignificar a vida é melhor do que viver encerrado em caixinhas contando sempre as mesmas histórias.

Dilza Salema – Professora, Pedagoga e Terapeuta de Família e Casal desde 2010, associada à ATF-RJ desde 2021