De repente o futuro virou futuro

A vida não é o que se viveu, mas sim o que se lembra, e como se recorda para contá-la. 

Gabriel García Márquez

Assim hoje trago para vocês recordações.

De repente o futuro virou presente.

O desejo aflorado aos 17 anos se apresenta aos 72 vivenciado de forma exuberante. Percebo que estive lá quando a psicologia se afirmava como ciência da alma. Tudo novo, não só para mim, mas para o próprio estudo da psique que engatinhava sob as égides da filosofia, dos estudiosos tantos sãos como charlatões. O caminho era um fio da navalha, e por uma ética da minha matriz familiar e por encontrar “ao acaso” profissionais sérios e comprometidos me orientei para o que hoje sou e muito me orgulho.

Falar da minha trajetória profissional é falar sobre toda a minha vida desde o início do jovem adulto. Minha vida profissional se mesclou de forma indelével a meu caminho rumo a humanização.

A profissão na verdade é o meu caminho para construir o meu ser humano- afinal a grande missão que temos no exercício da profissão.

Cada passo no exterior vem acompanhado de uma evolução interna de forma paralelas. Em constante e contínuo feedback.

No início trabalhando na Sociedade Pestalozzi e na Clínica neuropsiquiátrica CCI comecei minha percepção e a aprender que somos todos iguais e o considerado déficit pode vir a ser uma benesse para a família- um desafio e evolução.

Aprendi ali a não julgar e a educar e rever meus preconceitos. Aprendi que o acolhimento, o cuidar e  a amorosidade eram mais importantes que as técnicas. E principalmente o respeito ao outro.

E até hoje prefiro a escuta e o acolhimento do indivíduo a minha frente carregado por sintomas que escondem seu Eu a criar de forma urgente um diagnóstico, prognóstico e prescrições.  A escuta acurada é ouro.

Após alguns anos e já com filhos meu olhar se aprofundou, símbolos, sincronicidade, sonhos e intuições me levaram a encarar o INCONSCIENTE e o ARQUÉTIPO como a matriz do nosso ser.

Mas uma vez o acaso me encontrou no livro de Jung – o homem e seus símbolos. Mas não se esqueçam que nada é por acaso. O acaso é cheio de significados.

A formação em Psicologia Junguiana iniciou meu processo de individuação ou ”torne-se quem você é ” apregoado por Píndaro.

Foi um momento de grande crescimento e de aprofundamento do trabalho. Quanto mais as raízes se aprofundavam mais frondosos ficavam os ramos.

E nesse movimento circular dentro- fora, eu- outro em busca do meu ser e do outro- analisando o sistema familiar foi diagramado no centro da mandala.

Além da formação em Análise Junguiana entrei para a formação em terapia sistêmica familiar no Núcleo Pesquisas com Moisés Groissman- grande mestre e propulsor.

E nos levou a mim e duas grandes amigas conhecidas de todos – Ana Zagne e Suely Engelhard – a criar o CAAPSY – centro de atualização e aperfeiçoamento em Psicologia em Niterói / RJ. Hoje um Instituto formador e uma grande familia agregadora de novas idéias e pessoas brilhantes que levam a luz da familia adiante.

É esse o meu momento: colocar em foco o indivíduo no seu sistema familiar para então ir aos poucos lendo e ampliando sua história em cada página apresentada e eu como um leitor curioso em conhecer a história, vivenciando as ressonâncias, se emocionando e vibrando a cada vitória. E quem sabe ao iluminar os fatos recontar essa história do outro que também é minha?

Para melhor exercer essa tarefa comecei a fazer parte da ATF-RJ – Associação de terapia familiar que me coloca no centro dos acontecimentos e atualiza a “ fala” não só nacional mas, e também internacional.

Enfim, incluam nesse bordado os retalhos que faltam e intuam e imaginem a vida de uma pessoa que entardeceu e ainda procura com vigor e a cada dia a renovação.

Plantei árvores, tive filhos e escrevi livros.

Uma última palavra aos jovens aprendizes:

viver é preciso e deixar as coisas para traz e renovar é imperativo.