Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho

Inauguramos neste dia (28/04/2022) o primeiro editorial da equipe de Comunicação da ATF-RJ da gestão 2020 -2022. É um prazer compartilhar com todos os associados os nossos pensamentos, questões, dúvidas e certezas!

“Sem nenhum lugar seguro para ficar, nenhuma energia pode ser usada para explorar a possibilidade.”  Joseph Chilton Pearce, 2015

Como psicólogos norteados pelo olhar sistêmico, embora não especializados em segurança do trabalho, reconhecemos a importância fundamental da saúde mental como valioso pré-requisito para o bem-estar de cada pessoa que exerce seu trabalho, para evitar afastamentos, acidentes e mortes, bem como para o bem-estar das famílias e de toda a rede amorosa que convive e dá suporte aos nossos pacientes.

É gratificante estar bem e manter autocuidados constantemente para ter uma vida profissional equilibrada, utilizando competências e atitudes desenvolvidas com talento e valor. Criar boa reputação, construir uma história de relacionamento e interação com as pessoas e com o trabalho. A experiência nos mostra que esse cenário perfeito não será constante ao longo dos anos e dos diferentes ciclos da vida, mas que é importante estar sempre em busca de seu equilíbrio.

Como o comprometimento da saúde mental pode afetar a experiência de alguém no trabalho e na vida pessoal?

“De manhã penso muita coisa que vou fazer durante o dia, mas tenho taquicardia e medo de enfrentar essas situações. Sinto a mão gelada, suor frio, dormência nas mãos e nos pés, a carne trêmula, crise de tosse como se fosse vomitar. Ansiedade de quando isso vai acabar. No ônibus senti pânico. Tentei jogar no celular. Saltei do ônibus. Andei. Parei numa doceria. Comi um doce, bebi. A moça perguntou se eu estava bem. Eu disfarcei. Achei que podia morrer. Não fui procurar o técnico da outra área para ajudar com as coisas novas que aprendi. Aí cheguei em casa. Tomei banho. Deitei na cama e vi TV. Disfarcei de novo e não contei nada. Não quero ser vítima. Na próxima semana vou ao psiquiatra. Espero que ele aumente a dose do meu remédio e me dê licença de 15 dias. Talvez me afaste do trabalho para sempre.”

Como a família pode ser afetada e, apesar de tudo, ser um lugar de confiança, proteção, resguardo, abrigo, um porto seguro?

E as empresas, nesses tempos confusos, mutantes, desassossegados, onde muitos gestores e empresários, às vezes, não conseguem imaginar muito bem quem serão e como os seus negócios sobreviverão? Como ser um ambiente útil na contingência, preservando e desempenhando um papel de valor?

Tantas perguntas. Onde as respostas?

Nossa prática nos atendimentos psicoterápicos nos dá ferramentas para oferecermos apoio tanto ao espaço familiar quanto ao laboral, duas premissas ressaltam:

Primeira premissa a nossa preparação, e das famílias. A preparação é precursora a um ato. É feita para que o empreender seja possível. A aprendizagem ocorre quando todos os conceitos chegam mais perto das nossas vivências. Nós, terapeutas, trabalhadores, cotidianamente aprendemos e ensinamos a lidar com o desequilíbrio originado nas crises que trazem mudanças, às vezes, cruciais. Nossos pacientes não se reconhecem mais no futuro que almejavam. Eles estão lidando com o fim de alguns sonhos, de projetos de carreira, com o que faz sentido no trabalho. A habilidade de empatia começa em nós, na capacidade de escutar nossas próprias necessidades. A premissa é que o autocuidado físico, emocional, social, afetivo, intelectual, é um lugar de responsabilidade. Deve ser preventivo e não acontecer quando já estivermos descompensados. Na crise as necessidades dobram e alertam para a possibilidade de ver que algo não está bem! Isso nos leva à próxima reflexão.

Segunda premissa para lidar com as inseguranças; a ação. Para manter nossa conexão com o tema de Segurança e Saúde no Trabalho pensamos na ação como uma atividade simples ou complexa e que exige habilidade, gestão, arte, compaixão, acolhimento. Viver muito bem nosso caminho, nossa história e cuidar deles, é a meta. Encontrar recursos, espaços de descompressão, fazer planos, entendendo a situação que estamos vivendo, nossos pensamentos, julgamentos e sentimentos, distinguindo situações desestabilizantes, vozes exigentes, reconhecendo limites, definindo estratégias. Respirar! Respirar! Respirar! Pensamentos invasivos e repletos de ansiedade frequentemente bloqueiam a respiração. Respirar, exercício fundamental!

Para cuidar de alguém é preciso estar presente. Estar presente é uma ética. Estar aberto ao outro: presença radical para ouvir o que ele tem a dizer. Não é o lugar de buscar respostas. Nós (terapeutas, gestores, as famílias e redes sociais), que desejamos dar apoio às pessoas cuja saúde mental pode afetar a sua segurança e saúde mais ampla, podemos facilitar o questionamento, sem cobrar resposta. Há perguntas circulares a serem feitas: Qual é a sua dor? Quais são as suas feridas? Como se sente? Quer compartilhar comigo? Como você se saiu em experiências anteriores? Quais são as suas esperanças? Nossa postura pode e deve despertar a potência do outro. Famílias são lugar de escuta e aprendizado, mesmo quando estão paralisadas.

Ouvir com empatia é ação complexa. Empatia pode ser definida como: permanecer no próprio lugar, honrando o lugar do outro, a história do outro. Arte da escuta.

Equipe da Comunicação:

Vera Risi

Cassia Zanini

Norma Emiliano

Suely Engelhard