
A partir de março de 2020, com as notícias que o Coronavírus tinha chegado ao Brasil, fui alertada pelo meu filho que tinha que parar de atender no consultório e começar os atendimentos on-line. Demorei um pouco a me conscientizar dos perigos do contágio e esta realidade de usar o computador para atender clientes estava muito distante da minha forma de trabalhar.
Fiquei em pânico, precisava muito continuar a atender meus clientes, agora precisando muito de apoio, e me manter financeiramente. Iria conseguir?
Comecei a atender as famílias das crianças, fazendo sessões de Terapia de Família, tratando da situação nova que se apresentava e planejando com eles as sessões de família e sessões individuais com as crianças.
Adultos e adolescentes foram mais fáceis, apesar de que alguns saíram por não terem privacidade em casa.
Comprei um novo computador, orientada por minha filha, e busquei aprender como lidar com as plataformas de comunicação on-line: Skype, meet, discord, zoom… momentos de angústia, de ansiedade, de medo de não conseguir, com 70 anos, sem nunca ter lidado com esta situação profissional, além do medo de pegar o Coronavírus.
O que me estimulou? Continuar a ajudar as famílias e crianças, que estavam mais do que nunca precisando de apoio; o desafio de uma aprendizagem nova à minha frente; a necessidade de trabalhar, de me sustentar.
Meu irmão mais velho, falecido durante a pandemia, ajudou-me muito pesquisando e me enviando atividades pedagógicas desafiantes e divertidas. Agradeço a ele, com emoção, esta solidariedade fraterna e amiga neste difícil trabalho que estava iniciando.
Meu companheiro amoroso, professor de educação física, que veio morar comigo, me ajudou nas atividades físicas com as crianças, dentro de suas casas e no enfrentamento da pandemia. Sua forte resiliência me contaminou positivamente. Juntos vivemos momentos tristes, perdas irreparáveis, também foi o fortalecimento de nossa parceria amorosa.
Resolvi avaliar com os pais o crescimento dos filhos. O retorno foi surpreendente, emocionante, gratificante para uma terapeuta que estava iniciando um trabalho novo, dentro de mais de 30 anos de experiência profissional. Todas as crianças evoluíram bastante nas áreas emocional e intelectual, administrando bem os desafios da nova realidade e acompanhando a escola on-line e suas dificuldades. Suas famílias, também atendidas em terapia de família, enfrentaram as situações difíceis a sua volta, sem grandes estresses ou rupturas emocionais.
Mas a certeza de que o medo do novo, do diferente, do difícil deve ser desafio a enfrentar e poder colher os frutos deste novo trabalho, hoje híbrido, é muito gratificante e traz uma realização pessoal e profissional das mais felizes.
Numa época tão tenebrosa, em que esta peste se abateu entre nós, poder contar uma boa história, com um final feliz, dá muita satisfação, gerou energia positiva para minha existência. Sinto que hoje sou uma pessoa mais destemida, mais resiliente e pronta para o que der e vier. Maria Vilma
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