Entrelaçamentos: Família e escolhas de vida

Meu nome é Laurice Levy sou Diretora-Fundadora da INTEGRARE – Individuo Família e Sociedade, e uma das pioneiras na criação da ATF/RJ e da ABRATEF tendo exercido várias funções em prol da Terapia de Família no Brasil (como estão fazendo tão bem as atuais diretorias). Minha história profissional é um exemplo daquilo que ensinamos a nossos alunos ou seja: que nossas escolhas pessoais sejam elas profissionais e/ou afetivas vem consciente ou inconscientemente  de nossas heranças trans e tri geracionais.

Não é a toa que escrevi um livro chamado “Integrando diferenças – Possíveis caminhos  da Vivência Terapêutica”  e que desde 2008 fundei o Instituto do mesmo nome : Integrare.

Mas… comecemos pelo início. Nos anos 70/80 e até 90 a Psicanálise imperava no Brasil e no mundo. Desde sempre como criança “parentalizada” sabia que precisava trabalhar com gente e cuidar das relações entre as pessoas.  Meu encantamento pela Psicanálise não veio  somente porque todo mundo queria ser psicanalista da SPRJ e principalmente da IPA (Instituto Internacional de Psicanálise fundado por Freud) mas porque ao estudar profundamente Freud e seus seguidores mais brilhantes como Ferenczi, Winnicott, Masoud Khan, Maud Mannoni entre tantos outros fui ficando cada vez mais apaixonada pelo trabalho “arqueológico” de tornar consciente o inconsciente  ajudando as pessoas a não serem apenas vítimas de seu destino e sua história passada  mas  de se tornar protagonista da própria vida apesar de dificuldades infantis que podem ter deixado cicatrizes tão profundas quanto a mais profunda das tatuagens.

Minha tese de mestrado na PUC/RJ foi sobre a Dor Psíquica em Freud e em outros autores. Consegui também os 2 títulos citados acima e tão almejados por muitos. Foi uma formação longa e intensa (5 anos de estudos teóricos, supervisões e análise didática pessoal como exigido pela IPA). Sem dúvida valeu a pena e foi de muito aprendizado tanto pessoal quanto profissionalmente.

Entretanto, aos poucos, fui percebendo que o que alguns autores psicanalistas contemporâneos (internacionais) pregavam não era exatamente o que eu queria ser e seguir. Ou seja: sempre dei importância e valor ao inconsciente. Sou freudiana com certeza! Sei o quanto escolhas inconscientes podem tanto ajudar quanto atrapalhar as pessoas mas..o que eu não queria e não podia era  enrijecer em dogmas teóricos e/ou políticos ideológicos.

Permiti-me então sair em busca de novos caminhos para enriquecer minha formação profissional.  Assim, fiz parte do primeiro grupo criado por Moises Groisman na Núcleo tão logo a teoria sistêmica entrava no Brasil.  Fiquei encantada com Bowen e o Genograma bem como com Minuchin, Andolfi, Virginia Satir, Whitacker, Haley e tantos outros autores apaixonantes que enriqueciam meu conhecimento e facilitavam minha prática  clinica com casais e famílias.

Mais tarde me tornei psicodramatista (docente e didata pelo Delphos e FEBRAP – Federação Brasileira de Psicodrama) o que também muito me ajudava. O olhar Moreniano de desenvolvimento da espontaneidade e criatividade são de uma importância crucial. Adorava não precisar ficar apenas sentada na minha poltrona.  Percebia que quanto mais o terapeuta se permite ser flexível mais seus pacientes poderão se beneficiar com isso.

Aos que me perguntavam: “como eu me atrevia a “trair” a psicanálise” minha sensação era de   perplexidade.!!!!  Eu me perguntava: como trabalhar o inconsciente? como trabalhar as relações?  como trabalhar o corpo?  Afinal não somos seres  bio-psico-social inseridos em um contexto sócio histórico e familiar fundantes?  então como cindir? 

Para mim não era possível. De repente, escrevendo para um livro sobre os pioneiros da Terapia Familiar no Brasil, me dei conta do porquê!  Nasci no Cairo, Egito, em uma época em que aquele país era Internacional. Isso explica porque minha mãe falava 8 línguas entre ,francês, inglês, árabe, espanhol, armênio, grego etc…Em nossa casa nunca teve discriminação de Cor,  Raça, Gênero,  Religião, Nível Socioeconômico, Idade  etc.

Então a pergunta a ser feita é: como em meu caso não Integrar ?  Hoje meu trabalho é ver com os pacientes suas crenças, valores etc…e ajudá-los a manter tudo de bom que receberam e… caso seja necessário:  curar feridas, seguir em frente e escrever uma nova e melhor  história para si e para seus descendentes.  Bem como, há anos, formo terapeutas familiares que compartilham dessa visão:  Integrativa. Respeitando e admirando todas as demais formas de atendimento contanto que tenham ética, seriedade, estudo e aprofundamento. 

Dra. Laurice Levy

Psicóloga CRP 05/5091, Psicanalista (SPRJ- Sociedade Psicanalitica do Rio de Janeiro e IPA (Associação Internacional de Psicanálise, Mestre em Psicologia Clínica pela PUC/RJ, Terapeuta Familiar e Supervisora pela Núcleo Pesquisa Integrada da Criança e do Adolescente/RJ. Professora-supervisora de Terapia de família e de casais, Psicodramatista, Didata-Supervisora pelo Delphos Espaço Psico-Social e pela FEBRAP (Federação Brasileira de Psicodrama). Diretora-Fundadora do Integrare: Indivíduo Família e Sociedade. Membro Titular e Pioneira/Fundadora da ATF/RJ e ABRATEF. Professora-Supervisora de Psicanálise, Psicodrama e Terapia de Família e Casais. Supervisora Clínica – CRP - nº 0383780. Especialista pelo CRP. Tradutora sindicalizada. Consultora Nacional da Revista “Pensando Famílias”, Publicação Científica DOMUS Centro de Terapia de Casal e Família. Porto Alegre, RS. ISSN 1679-494X. Autora do livro Integrando Diferencas - Possíveis caminhos da vivencia Terapeutica e co autora e organizadora de diversos livros e revistas especializadas. Apresentadora de palestras em Congressos, Seminários Nacionais e Internacionais. Tradutora de Psicanalistas, Filósofos e Terapeutas Familiares de língua francesa.