Meu encontro com a Terapia de Família

“E lá vou eu nessa agonia
levando a dor em minhas mãos
fugindo igual a um bicho errante
amargura coração
Cantar, cantar, cantar
sofrer, sofrer, sofrer
voar, voar, sobreviver.”

Paulinho Pedra Azul,
Ave Cantadeira

Ao longo de um bom tempo passando por alguns terapeutas, na cidade de Teófilo Otoni, MG, tentando sobreviver a uma aguda crise matrimonial, conheci uma terapeuta que tinha uma abordagem sistêmica. Com ela, pela primeira vez, fui sendo posto frente a frente com a história familiar que me norteava, formava minhas crenças e nutria minhas relações amorosas frustrantes.

De fato, os versos da canção do Paulinho Pedra Azul, citada acima, foi a mola que me impulsionou para terapia sistêmica. Em meio a agonia e o desejo de sobreviver às duras perdas de um caminho onde não encontrava a saída, que algo de novo aconteceu na minha história relacional.

Daí em diante, comecei a ler e me informar sobre o tema que tão de perto me interessava e direcionava secretamente os meus contratos inconscientes junto ao clã familiar dos Ribeiros e Carneiros. Em São Paulo, conversando com uma amiga psicóloga, da mesma comprei o livro que serviu como base de estudo e vasculha pessoal: A Simetria Oculta do Amor, de Bert Hellinger.

Ao mudar de Teófilo Otoni para Belo Horizonte, capital mineira, fui informado de um núcleo de formação em Terapia Familiar em Juiz de Fora, Zona da Mata Mineira. Entrei em contato com Denise Magalhães, diretora do ITF-JF, e dei início à formação. Ali pude adentrar de forma didática e sistematizada aos estudos com famílias e casais.

O grupo era bem diversificado em suas áreas de formação. Uma gama de profissionais comprometidos e estudiosos, ninguém ficava sem dar sua contribuição para crescimento um do outro. Por vezes, o tema deixava um rastro de poeira dada a altura das discussões, algo de tudo que é paixão do humano.

Após a formação em Terapia de Família, eu busquei uma formação na área da psicanálise em um círculo freudiano. Confesso que ali me senti restringido a um olhar ortodoxo e com pouca abertura para o campo da família. Acredito que na Terapia de Família a diversidade de olhares e múltiplas disciplinas contribuem mais pujantemente para compreensão do texto psíquico que se apresenta em nossas clínicas.

Encontrei, mais recentemente, um novo grupo de psicanalistas que já possuem um olhar ao nicho familiar como estruturante das doenças psíquicas que carregamos. Esse núcleo, também freudiano, expande sua visão e aborda a possibilidade de uma psicanálise com família. Isso tudo tomo como ferramenta, possibilidades de melhor compreensão e abertura do que me deparo no cotidiano da clínica.

Deixo aqui meu registro de crescimento, apreciação e carinho pela Associação de Terapia de Família do RJ. A princípio cheguei distante, e mais ouvinte que tudo. Depois, fui sendo envolvido pelas discussões clínicas, a simpatia da acolhida nas opiniões e por fim, o convite para apresentação de um caso clínico desafiador.

De pronto aceitei e esta apresentação rendeu a formação de um Grupo de Estudo para melhor compreensão da temática desafiadora implícita no caso clínico: O sentimento de Culpa Decorrente do Suicídio em Uma Mãe em Terapia.

Face a todas estas construções extremamente positivas, considero como foi importante minha filiação à ATF-RJ. Neste espaço aprendi admirar o nível de respeito com que todos se tratam. Uma casa de amigos! Encontros sempre amistosos, cheios de cumplicidade e estímulos ao crescimento mútuo. Faz gosto fazer parte dessa casa fraterna.

Nestes dois anos de pandemia, a vida, para mim, se tornou suportável graças ao apoio que cada terapeuta teve nos encontros em que tratávamos do cuidado mútuo. Encontros que despertaram esperança e um olhar mais positivo sobre nosso mundo e do outro que se achega ao cuidado clínico. Minha gratidão a todos os membros deste núcleo de profissionais que crescem e permitem o crescimento do outro.

 

Jeremias Ribeiro Carneiro

Teólogo, psicanalista e terapeuta de família e casal