No DIA NACIONAL DA ADOÇÃO, vamos falar das mães biológicas que renunciam a maternidade.

Originalmente no Brasil, o dia 25 de maio foi declarado Dia Nacional da Adoção durante o I Encontro Nacional de Associações e Grupos de Apoio à Adoção, em 1996. A data visa promover a importância da adoção considerando o direito da convivência familiar e comunitária. O campo da adoção considera que a biografia da criança inicia na gestação biológica, ocorre o rompimento do vínculo materno e evolui para o vínculo adotivo. O tema da origem biológica precisa ser tratado e elaborado tanto pelos pais como pelos filhos adotivos. Necessário esclarecer de que lugar que falo, ou seja, como membro da ONG Terra dos Homens, cujo trabalho inclui atendimento de famílias, processos de destituição do poder familiar, institucionalização, reintegração familiar, grupos de pais de habilitação para a adoção e apoio a jovens na saída do abrigo em busca das suas origens.

Como dar luz a essas mães biológicas que, por suas razões, renunciam a um filho. Saliento o impacto da sociedade frente a uma mulher que não pode ou não quer viver a maternidade. A sua invisibilidade esconde muitos preconceitos sobre o mito materno considerado, historicamente, sagrado. Importante respeitar sua decisão, pois do contrário a criança pode sofrer o risco do abandono. No Brasil, não é possível atestar essa intenção por escrito antes do nascimento do bebê. A mulher durante a gravidez ou após o parto é atendida na Vara de Infância, cujos técnicos buscam escutar, entender, acolher e orientar sobre a irrevogabilidade da adoção. A voz em anonimato de uma mãe biológica é autoimposto e ela tem o direito da entrega consciente da criança garantida pela justiça.

Nas oportunidades que pude escutar as mães biológicas, elas relataram os vários motivos para sua renúncia. O rompimento do vínculo entre a mãe e a criança certamente foi vivido com dor. Ela teme ser punida e não ser compreendida pelos profissionais do campo da adoção. Ela se sente vítima de um padrão familiar transgeracional de abandono. Expõe suas condições carentes e se sente rejeitada socialmente. Prefere viver na cultura do segredo, mantêm o silêncio sobre seu passado por vergonha e medo de ser condenada até por uma nova família que constitui. Ela pode ter medo do arrependimento, mas o remorso é atenuado com a esperança de que o filho tenha mais oportunidades. Sobre o seu futuro, pode nutrir fantasias sobre um dia poder encontrar esse filho, mas revela o medo de não ser perdoada.

A história da mãe biológica que se afasta de seu filho pode ser relacionada à uma dinâmica inexorável em relação a maternidade. Podemos avaliar os problemas psicológicos ou psiquiátricos; pobreza extrema; drogadição, violência doméstica; rejeição ou desconhecimento do genitor, distanciamento da família de origem, falta de recursos sociais. E foi enganada por pessoas que cobiçavam a criança, pensou estar protegendo a criança por um tempo acreditando poder depois reverter a situação. E por fim, por não poder acolher seu bebê; ela mesma precisaria ser cuidada ou adotada. O ato consciente da entrega pode ser redefinido como um ato de amor ao bebê para que ele possa ser adotado por quem deseja muito exercer a parentalidade adotiva e está devidamente habilitado. A mãe biológica está presente na biografia dos indivíduos que foram adotados e de suas famílias.

A experiência adotiva envolve os pais na espera por um filho e uma criança na espera por uma família. Necessário considerar que o status adotivo faz parte da história dos pais e da criança desde antes da adoção. Alguns pais frente a sentença da adoção, preferem nada saber sobre a história da criança. Revelam a adoção, mas buscam razões para manter a origem biológica em segredo.

O Terapeuta Familiar considera a biografia da criança, o que inclui: a gestação, o corte do vínculo com a mãe biológica, o abrigamento ou acolhimento por figuras substitutas e finalmente pela adoção na nova família. O objetivo terapêutico visa a elaboração dos mitos e preconceitos sobre as origens, não para retirar as marcas e especificidades da adoção, e sim tratar das repercussões dessas marcas na vida da criança. O atendimento demanda do profissional a empatia para questões tão difíceis, mas que possibilitem que pais e filhos se adotem mutuamente. E assim, a mãe biológica, que viveu momentos dramáticos, pode amar a distância e seguir sua vida em paz, no seu direito ao anonimato.

Cynthia Ladvocat

Psicóloga, Psicanalista e Associado Titular da ATF-RJ.
Membro da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro, Mestrado na área de família e da adoção pela PUC-Rio e Membro do Conselho da Associação Brasileira Terra dos Homens.

One Reply to “No DIA NACIONAL DA ADOÇÃO, vamos falar das mães biológicas que renunciam a maternidade.”

  1. Cynthia e ATF-RJ tocando em um tema tão importante e apenas sussurrado…Nós terapeutas precisamos conversar sobre esse tema. Obrigada e parabéns.

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