O adiamento da maternidade e sua conseguências

O adiamento da maternidade é uma tendência que vem se destacando em todo o mundo. Com a evolução da medicina reprodutiva, a gestação tardia torna-se uma opção. As mulheres deixam de ver a gravidez como uma obrigação e postergam a decisão de ter filhos para o melhor momento em suas vidas.

A mulher contemporânea assumiu novos papéis e a diferente configuração na sociedade trouxe mudanças não somente na sua rotina, mas também nos seus planos de vida. A maternidade tardia tornou-se uma opção viável para as mulheres que têm parceiros, e para as que desejam ser mãe solo, ou seja, sem a inclusão de um parceiro, sendo efetivada por meio da intervenção das técnicas de reprodução assistida. Esse projeto, não mais destino, a maternidade moderna, passou a ser uma questão de escolha, apoiada na liberdade que a ciência ofereceu à mulher.

É cada vez maior o número de mulheres bem-sucedidas no mercado de trabalho que altera suas prioridades, adia o projeto da maternidade, seja para se dedicar à carreira profissional, seja por desejar alcançar uma estabilidade financeira ou porque ainda não encontrou o parceiro ideal, acreditando que pode decidir o momento exato da procriação. Tais mulheres, mais jovens do ponto de vista físico e comportamental, têm um relógio biológico que não acompanha essa evolução. A idade avançada acaba afetando a capacidade reprodutiva pelo envelhecimento dos óvulos, o que pode impossibilitar a gravidez de forma espontânea.

O desafio de preservar a fertilidade é maior a partir dos 35 anos da mulher. A partir dessa faixa etária se torna mais complicado engravidar, por conta da queda na produção do número de óvulos, que diminui progressivamente com o avançar da idade. Por isso, o congelamento de óvulos vem se tornando uma opção para quem deseja esperar pelo melhor momento para ter filhos e não quer correr o risco de não realizar o sonho por conta da queda da fertilidade.

Embora alguns valores tenham sido modificados em grande parte na cultura moderna, a experiência da infertilidade pode gerar sentimento de culpa e vergonha, produzindo muitas vezes um estigma social, o qual pode acarretar sofrimento e isolamento. Uma acentuada queda na autoestima, carregada de sentimentos de inferioridade, pode acabar por configurar importantes quadros de depressão e ansiedade elevada, desencadeando reações emocionais na esfera da sexualidade e nos relacionamentos conjugais. Portanto, prolongar muito a decisão de ter filhos pode significar um risco grande, segundo as descobertas científicas sobre o tempo biológico da mulher.

As mulheres contemporâneas encontram-se sem um referencial, sem modelos a seguir, e, assim, têm que buscar novas formas de lidar com as questões que a elas se apresentam agora e que são distintas daquelas que eram comuns às mulheres das gerações anteriores.

A intervenção psicológica tem como objetivo criar um espaço de escuta em relação às fantasias, inquietações, medos, expectativas. Nesse espaço de escuta, reconhecer e legitimar o que a pessoa e o casal, está vivenciando em cada etapa do tratamento. Cabe ao profissional de saúde mental, considerar a complexidade da situação, facilitar sua expressão, oferecendo suporte que acolha, favoreça a reflexão e contribua na tomada e aceitação de decisões. O objetivo do profissional de psicologia, quando se dedica a essas complexas dinâmicas de filiação possibilitadas pelo avanço das tecnologias reprodutivas, é o de escutar e entrelaçar o desejo de ter filhos na particularidade de cada dinâmica familiar.

Helena Prado Lopes

Psicóloga, terapeuta de casal e família. Membro titular da ATF- RJ. Psicóloga colaboradora do INSTITUTO DE GINECOLOGIA DA UFRJ, setor de reprodução humana no Hospital Moncorvo Filho Psicóloga da Clínica Gestar de Medicina Reprodutiva Membro da AFTA- AMERICAN FAMILY THERAPY ACADEMY