O que leva as famílias a mentirem?

Mentimos para evitar a dor – é humano!

Encarar as verdades, entretanto, pode nos tornar livres e sem dor.

“Mentira tem perna curta”, diz o ditado. Tem mesmo?! Quase nunca…

Gerações e gerações às vezes passam até que verdades sejam reveladas causando danos irreparáveis nos vínculos familiares.

Há riscos numa família em manter uma mentira? Sim.

E por que correm estes riscos? Para proteger a imagem de alguém ou da história da própria família, por exemplo.

Manter o segredo pode ser um símbolo de lealdade. Lealdade que em algum ciclo da vida familiar pode se transformar numa herança maldita criando uma tradição de enganos.

Se a sinceridade muitas vezes machuca, a contrapartida é que a mentira faz um estrago bem maior “salvando” o presente, mas condenando o futuro.

Cabe a nós terapeutas promover um ambiente seguro para que a família compreenda que a sustentação de uma mentira é muito mais devastadora do que a revelação de uma verdade mesmo que dolorosa.

O peso e a vergonha da manutenção de uma mentira para alguns membros da família podem ser superados e ressignificado quando a verdade vem à tona.

Nos casos de adoção, por exemplo, o sentimento de ter sido enganado é forte e impede que a pessoa tenha acesso a sua história de origem. As famílias que falam abertamente sobre a adoção tendem a ter uma interação mais saudável.

A mentira não cura, na verdade abre novas feridas. A verdade sim tem o poder da reconciliação e de diminuir sofrimentos não identificados causadores de comportamentos incompreensíveis para o sujeito e/ou para os que o cercam no círculo familiar.

Inúmeras crenças habitam o seio das famílias impedindo muitas vezes de sermos o que queremos ser. Quando estas crenças nos prejudicam tentamos ocultá-las, negando-as, mentindo.  E, as ocultamos tanto que chegamos a acreditar que elas não existem mais!

As mentiras deliberadas podem se transformar em segredos e assim vir a prejudicar a confiança interpessoal e a confiabilidade no relacionamento familiar.

Elisabeth Noël Ribeiro

Psicóloga PUC/RJ
Terapeuta de Casal e Família