“Caminhante não há caminhos faz-se o caminho ao andar.”
(A.Machado)
O pedido para escrever sobre o trabalho terapêutico que desenvolvo me remeteu a três questões: a escolha, o sentido do meu exercício profissional e como vem se dando os passos dessa caminhada desafiadora que é tornar-se terapeuta.
Ao refletir sobre minha escolha (que primeiramente passou por ser professora da escola pública e depois psicóloga) fui seguindo do ensino-aprendizagem ao processo de mudança e, daí, a compreender que tudo está interligado num processo permanente de equilíbrio e desiquilíbrio, de desorganização e reorganização, numa complexidade que até hoje me instiga a muitos questionamentos e dúvidas, que me levam a uma incessante busca de conhecimento.
Hoje diria que minha escolha foi trabalhar com pessoas e suas relações. Como se formam os vínculos, como se criam os laços e como aparecem os nós na comunicação e o congelamento do tempo que trazem as estereotipias, impedindo a criação do novo, da inovação e da renovação.
Busco sempre o sentido do ser terapeuta, em abrir um espaço -tempo para junto com um casal ou uma família olhar para suas relações e junto com eles buscar o contexto que gera sofrimento em alguns, e perplexidade em outros.
Como se os casais e as famílias trouxessem retalhos e o terapeuta tivesse que ter a linha e muitas vezes, também a agulha para, primeiramente, configurar um contexto que permita a inclusão de todos para apresentar um tecido relacional de influências recíprocas trazendo alguma compreensão e sugerir alguma saída para um momento de estagnação no ciclo vital. E aí novos cortes, novos fragmentos e novas conversas vão se construindo no processo terapêutico.
A força do pertencimento familiar, a originalidade e a resiliência de cada um, emergem como nova configuração. Agora linha e agulha, apropriadas pelos membros do casal ou da família, permitem que cada um borde do seu jeito o futuro relacional, num tempo de reconhecimento das diferenças e adaptação ativa e criativa.
Para mim o trabalho terapêutico faz sentido quando o terapeuta é como um visitante que chega com lentes desconhecidas e, talvez, algumas tarefas estranhas, tendo a proposta de enfrentar com coragem os ditos, os não ditos e até mesmo os malditos que, muitas vezes, são reflexos de outras gerações e que reverberam no presente por não terem sido tratados no passado.
Gosto de ser um terapeuta caminhante que entra e sai como um convidado por aquele casal ou por aquela família para enfrentar aquela crise que pode gerar novas configurações e, depois, sigo o meu caminho, sabendo que influenciei e fui também influenciada num processo permanente da arte de ser terapeuta.
Regina Cavour
Psicóloga, Terapeuta de Família e Casal, vinculada à Núcleo Pesquisas RJ, Associada da ATF-RJ