Dirijo-me aos prezados colegas, terapeutas de família, atuais e futuros membros dessa tão necessária e importante instituição, a ATF-RJ, na qual encontrei pertinência, abrigo, moldura e propósito.
Gostaria de compartilhar os sentimentos que me afluíram quando recebi o convite e a oportunidade de descrever um percurso profissional junto e misturado com minha biografia, cujo tema inspirador tem o título “DE LÁ PARA CÁ”.
Mas preciso iniciar com um pedido de desculpas aos leitores desta página. Apesar de o tema ser inspirador, e tarefa estimulante, me vejo com dificuldade de entrar no tema proposto, a partir da posição de educadora, fonoaudióloga, psicóloga, terapeuta sistêmica de família e casal, mediadora de conflito, assistente de perícia judicial etc.
Explico:
- • Hoje, dia 6 de março de 2022, faz exatamente 10 dias que ocorreu a invasão de um país soberano sobre outro país soberano!
- • Já faz 10 dias que famílias inteiras estão sendo ameaçadas, encurraladas, separadas e dizimadas!
- • Já faz dez dias que os valores morais, éticos, religiosos e humanitários estão sendo desafiados em tempo real!
- • Já faz 10 dias que o diálogo, a construção de contexto colaborativo, o construcionismo social, a biologia do amor, as teorias narrativas, as teorias psicológicas, a psicanálise, etc., estão sendo convocadas para o campo de batalha! As narrativas, em mau uso, estão servindo de álibis para as práticas de alienação do outro! O que deveria ser considerado “O LEGÍTIMO OUTRO”, como nos ensinou Maturana.
Sou filha e neta de vítimas da segunda guerra mundial. Sou mãe e avó de pessoas que felizmente nasceram livres. Portanto venho de LÁ PARA CÁ, dizer da minha identificação com aqueles que sofrem qualquer tipo violência; física, moral, intelectual, social, religiosa, de gênero, de raça, etc.
Caros colegas, obrigada.
Acabei de entender as dificuldades momentâneas que senti para descrever o percurso de uma terapeuta de família “abrigada” pelo grupo da ATF-RJ.
Encontrei na minha biografia a minha família!
Foi de dentro das gerações passadas que me tornei terapeuta de família! A família serviu para a identificação com o sofrimento humano. O pertencimento à ATF proveu a teoria e o conhecimento para uma melhor prática.
E o outro, o LEGÍTIMO OUTRO, definitivamente é aquele que me orienta no campo terapêutico.
Desejo veementemente que o campo de batalha seja substituído pelo campo terapêutico. Porque afinal, ser terapeuta de família é também um ato político!
(escrito em 06/03/2022)
Eva Bruckner
Bacharel em Psicologia pela PUC/ RJ (CRP 27613);
Bacharel em Fonoaudiologia pela Universidade Estácio de Sá, RJ (CRF 1516);
Perita Judicial (TJRJ);
Pós Graduada em Terapia de Casal e Família pelo IFT-Instituto de Terapia de Família, RJ;
Especialização em Terapia Sistêmica individual, casal e família.
Mediadora especializada em resolução de conflitos familiares, interpessoais e empresariais pelo Instituto Mediare, RJ.