Setembro Amarelo – Prevenção ao Suicídio

Devemos falar sobre vida e morte.

Precisamos temer a vida na mesma medida que tememos a morte ou devemos entender que viver é o se preparar para a partida final?

Quanto mais honremos vida e morte mais teremos espaço na vida para tornarmos o morrer nossa meta. E a partir daí podermos falar abertamente sobre os que pretendem “partir” antes da meta alcançada: os que se suicidam.

A abertura e o espaço familiar para conversas e diálogos familiares sobre a morte e o morrer, independente de enquadres religiosos ou sociais, pode trazer à superfície e à luz as questões, a solidão, os sofrimentos que tiram a vontade de viver e a esperança, o sofrimento de cada um e seu impacto na dinâmica familiar.

Tem coisas na vida que nos fazem sofrer. A dor de todos é válida. Faz parte da vida. Não é castigo. Aprender a treinar o olhar e as falas para ir costurando as coisas boas que estão acontecendo durante o sofrimento, vai trazer emoções: da culpa, da maldade, do riso, do belo. O medo dessas conversas não está na história familiar e pessoal de cada um, e sim, na nossa alma. Ouvi dizer que sobre os escombros a gente pisa levemente e nessa travessia acontecem coisas boas.

Assim como nos preparamos para o nascer temos que nos preparar para o morrer.

Mas, não há palavras suficientes para expressar a dor quando alguém numa família se mata. Um caso publicado recentemente informa a morte de dois filhos jovens que se suicidaram em curto espaço de tempo e, todo o sistema se “suicidou”. A mãe tem feito um movimento intenso para recuperar a própria vida, compartilhando sua tragédia pessoal e ajudando outras mães cujos filhos também se suicidaram.

Se tenho medo da dor do outro, do filho, do paciente, do companheiro, me concentro em cuidar da minha própria dor. Como consequência, a subjetividade dos membros da família, suas vozes e as narrativas que os constituem ficam encobertos. Se a energia do compartilhamento puder ser trazida para a conversa nos encontros familiares (ou na escola, na clínica, nas áreas da saúde, na sociedade), teremos uma atitude preventiva em relação aos atos que adiantam a partida de um indivíduo.

O olhar preventivo leva a “não banalização” da vida e da morte. Possibilita os sistemas em que vivemos, a não negar, sem ver, ouvir ou falar, das dores e delícias que o viver nos confere para que o nosso morrer seja pleno.

Se, no entanto, o morrer se impõe devemos aceitar e, mesmo em sofrimento, acolher aquela “escolha” que se realizou e com mais vigor e consciência buscar unir vida e morte em nossa alma.

Morre-se bem na mesma proporção de seu viver.

 

11 de setembro de 2022
Suely Engelhard e Cassia Zanini