Setembro amarelo

Mais precisamente dia 10 de setembro.  No ano de 1994, um jovem americano de 17 anos, amoroso e cheio de amigos suicidou-se dentro do seu Mustang 1968, recém reformado por ele, que o pintou com a cor amarelo brilhante.  Seus pais, atônitos e chocados, não queriam que essa perda fosse em vão; durante o velório, distribuíram um cartão com uma fita amarela com os seguintes dizeres: “Se você está pensando em suicídio, entregue este cartão a alguém e peça ajuda! ”  Em pouco tempo, estavam recebendo telefonemas de todo o país.

O Brasil é o oitavo país em número de suicídio, é a quarta causa de morte na faixa etária dos 10 aos 24 anos, sendo 96% atribuídos a doenças psiquiátricas, principalmente depressão e transtorno bipolar.   Daí tamanha importância da campanha Setembro Amarelo, pois possibilita conversar sobre o assunto, com cada vez menos preconceito e negação, dando às pessoas com esse tipo de ideação, a oportunidade de se abrirem e a buscarem apoio tanto da família, amigos e ajuda especializada.

Sabemos que esse tema é difícil de abordar, somos naturalmente pela vida, temos uma força natural, segundo os filósofos, o “conatus”, uma força interna para perseverarmos na vida e nos afastar de tudo o que nos despotencializa.  Falar da morte é assustador para todos, mas não falar, nos coloca num estado de negação e ignorância, pois ela nos espreita a todo momento.  

Ao enfrentarmos a pandemia covid-19, também enfrentamos nossos recursos internos de como lidar com as dificuldades.  Para pessoas vulneráveis, o que era difícil pode se tornar ainda mais difícil, dada a grande diminuição de recursos, sejam financeiros, sociais, impactando de diferentes maneiras cada faixa etária.  

O que é mais importante?  Escutar, perguntar, não julgar, acolher, ficar perto e se mostrar interessado, preocupado e disponível para a pessoa.  Não ter preconceito de falar no assunto, como ensinam, com muita propriedade e experiência o CVV (Centro de Valorização da Vida), que atende 24h por dia 365 dias por ano, através dos seus incontáveis voluntários, seja pelo telefone (188), seja por e-mail, chat ou encontros presenciais (no momento suspensos), que prestam uma assistência nas situações de emergência impressionante.

Nós, terapeutas de família, verificamos que as vezes, só num ato extremado como esse, uma família consegue “ouvir” um pedido de socorro, portanto, estar atento a mudanças de comportamento, estar atento ao outro, é de extrema importância para evitarmos um desfecho trágico de uma vida.  

Seja qual for o motivo, a pessoa que tem ideação suicida ou que passou ao ato, está em extremo sofrimento, não vê luz no fim do túnel, está sem esperanças e precisa de ajuda.  

“Falar é a melhor solução”-  O Conselho Federal de Medicina, assim com a Associação Brasileira de Psiquiatria se uniram ao CVV para dar cor e corpo a essa tão importante campanha nacional e internacional.

Rosane Esquenazi

Psiquiatra clínica Terapeuta individual, casal e família