Vinda do interior, lá pelo norte do estado, quase divisa com Minas, fui acolhida em Niterói com toda a honra e glória que se possa ter um cidadão comum. Aqui cresci, passei minha adolescência, me formei, não só na Escola Normal, o famoso, na época, Instituto de Educação de Niterói, como aqui, constituí meus valores, a forma como encaro a vida. Observo o que me cerca, ora reestruturando meus conceitos, ora afirmando-os, ora os esquecendo.
Com o passar dos anos, atuando com turmas nas escolas me incomodava as dificuldades que a maioria dos alunos demonstrava, e me questionava. O que está faltando? Fui então complementar meu curso normal, ingressando na faculdade de Pedagogia. Nesse mesmo período, já com as três filhas, fui convidada para começar uma escola, experiência marcante em minha vida, quando colocava em prática todas as minhas aspirações e aprendizados, e via concretamente os resultados. Ainda não me bastava. Desejava maior aprofundamento em conhecer a arte de ser humano. Surge o curso de Psicopedagogia, que me possibilitou um encontro com pessoas incríveis que me trouxeram um múltiplo olhar para as relações que se estabelecem entre o conhecimento e o saber, que vão dar lugar ao aprender – espaços objetivo e subjetivo manifesto em cada indivíduo, fruto de uma história da sua família, e que se depara com exigências escolares em que os professores sabem o que querem ensinar, mas não sabem o que os alunos querem aprender. Muitos cursos, muitas vivências e experiências, contato com as mais variadas famílias através dos seus filhos.
Muito bem! Estava tudo muito bem? Nem pensar, ainda faltava! Foi quando iniciei a formação de terapia familiar sistêmica para ampliar a minha perspectiva como psicopedagoga.
O que me leva a esse trabalho, em que proponho investigar qual a interrelação família /escola/ aprendizagem e as influências que envolvem o sujeito em seu processo de desenvolvimento e crescimento?
Amparada por diferentes autores e, ao mesmo tempo, repleto de vivências minhas e de todas as pessoas que comigo interagiram nessa trajetória – alunos, professores, estudantes – revisito o período em que coordenei e também ministrei aulas do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Psicopedagogia Clínica e Institucional, o qual, desde seu início, além das disciplinas básicas do curso, incluímos a disciplina Visão Sistêmica no Contexto Família / Escola, ressaltada por muitos alunos em seus trabalhos de finalização do curso.
Hoje, depois de quase 50 anos trabalhando em escolas como coordenadora e sempre vinculada à formação dos professores e orientação às famílias, atuo em consultório particular com atendimento a todas as idades e com a formação do PEI, Programação de Enriquecimento Instrumental de Raven Feuerstein, que envolve estimulação das funções cognitivas, e a formação em Neuropsicopedagogia, que envolve a compreensão da relação da neurociência com a aprendizagem.
Assim, continuamos a caminhada, pressupondo um ser permeável a todas as transformações, mudanças, renovações, atualizações. Direcionar toda a energia numa só direção. Mas é pouco. Não basta.
Importante se dar conta que assumir uma única posição nos impede do principal, de abrir a porta para acessar a esse mundo com suas próprias pernas, e passar por diferentes janelas. O mundo é grande, super variado e o tempo de produtividade é pequeno. Diversificar é a palavra-chave. Abrir campo de trabalho, vivenciar os espaços, conviver em grupos diversos de pessoas, variar a posição que ocupa em cada ambiente, cada grupo ao qual faz parte. Arriscar e atuar, onde você pode ou não ser uma presença.
Aprender a valorizar sua trajetória, sem encontrar o vazio de achar que não está em lugar algum. A construir o seu espaço por você mesma, estar aberto a novos relacionamentos, novas verdades, sem capa. O re-fazer, re-conhecer, re-compor. temperado com muito amor, movido eternamente e sempre pela paixão.

Iandara David dos Santos
Pedagoga-Neuropsicopedagoga
Terapeuta de Família